É possível ser original?
Inspiração.
Existe?
De onde vem? Se é que vem. Tem método? Acho que cada um tem o seu. Será?
E pra que serve? Pra ser Original? É possível ser original?
Se ficamos só meio inspirados, ou somos interrompidos e perdemos o fio da meada, pra onde ela vai? Se ficou incompleta, serviu? Existe inspiração incompleta?
Perguntas que podem soar absurdas, mas que ecoam em muitas cabeças de quem se move nesse terreno movediço de criatividade e arte.
No que as minúsculas coisas que nos inspiram se transformam quando intentamos criar arte?
Copiamos, ou inventamos, ou ambos?
Não lembro de quem é a frase: "bons artistas copiam, grandes artistas roubam". Sempre me vem à cabeça quando penso sobre esse assunto. Não sei se concordo. Nem sei se discordo. E ok. Sei que ela é um ótimo ponto para inúmeras polêmicas, mas não é o que desejo aqui. Portanto já aviso que, a partir de agora, só seguirão perguntas e provocações, e não respostas.
Não acredito na originalidade pura e sim na criação a partir de misturas, de padrões, de linguagem, de formas e formatos, etc. Poderia decorrer sobre este ponto de maneira mais acadêmica, mas não o farei pelo pouco espaço ou tempo.
De qualquer modo, que minha linha de pensamento é que a originalidade é fruto de remixagens e contextos, de criação composta e co-criadas com inúmeros filósofos e linguistas. Acredito em trabalho criado com outros, a partir de outros. Seja consciente ou não.
Portanto, se tudo é (ou pode ser) "remix" e nada pode ser originalmente puro (e não vejo isso como um problema, e sim qualidade) como se inspirar ou criar algo distinto no meio de um oceano de referências e informações?
Se tudo pode tornar-se clichê, datado ou algo similar dependendo de quem olha e quando olha. Como não se paralisar e seguir na tentativa de criar algo que fuja do ordinário e que provoque espanto? E que possa marcar a vida e a memória de alguém?
Obviamente a maioria dos artistas não tenta copiar intencionalmente outros. Acaba sendo influenciado pela arte que vê (bem como por tantas coisas que vive), em quantidade, e pelo modo e locais com os quais teve contato com elas.
Não bastasse esse fato não ser novidade, também não é nenhuma raridade o fato de sabermos que vários artistas são influenciados por outros inúmeros artistas, inclusive de artes distantes da sua. Portanto, se aqui não há novidade pra ninguém. Então como falar do novo e do que pode vir a inspirar?
Me pergunto porque será que na maioria das vezes para descrever algum trabalho que vimos, já na primeira tentativa recorremos em dizer que tal obra/ música/ filme/ espetáculo é a mistura de fulano com pitadas de sicrano? Ou parece uma cópia mal camada ou melhorada de beltrano.
Porque não tentamos nesse primeiro momento encontrar ali, naquele ato mesmo, a potência que se não o torna original, o torna honestamente singular?
Por que não falamos nem que seja da mistura, do olhar que viu coisa que não vimos e juntou peças que achamos que não poderiam ser conectadas? Porque não falar assim primeiro? Avaliar características daquela obra que nos toca, e somente depois dizer que também invocam outras tantas semelhantes?
Mas, voltando à questão inicial do texto, acho que a inspiração talvez seja justamente o que é pujante, o que rompe a barreira do som em nossos sentimentos, o que salta aos olhos, sussurra aos ouvidos dizendo: vem brincar comigo. Acredito que será aí que podemos encontrar coisas e caminhos e nos inspirarmos.
O estar atento, o experimentar, o encontrar ponto de contato de uma coisa com outra coisa. O refazer que se refaz.
Talvez nesse choque, nessa conexão, nessa união é que surja a inspiração. Não sei. É apenas palpite.
Também não sei se nos dias atuais cabe a pergunta: como ser original? Talvez seja mais interessante nos perguntarmos como podemos apresentar a nossa visão e a nossa voz, que é composta de tantas coisas (coisas que vemos, coisas que nos olham, e de coisas que não vemos).
Acho que para encontrar a inspiração e a "originalidade" talvez valha o caminho de tentar ser sua própria voz, e percorrer seus próprios caminhos. Não somente no mundo da arte.
Obviamente sempre lembrando que somos feitos de muitos, que somos "um, nenhum e cem mil".
Até o próximo encontro